Ensino à distância versus qualidade do ensino – quando o mundo virtual faz mal à saúde

segunda-feira, 19 de junho de 2017 às 15:21
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*Por Rodrigo Lorenzoni

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Ninguém questiona que um dos caminhos para o Brasil se reencontrar com o desenvolvimento passa pela educação. O Índice de Desenvolvimento Humano brasileiro deixou de avançar em 2015 e estagnou na 79ª posição mundial. O IDH é a medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de “desenvolvimento humano”, utilizando como critérios indicadores de educação, longevidade e renda. Para termos uma ideia, nós perdemos para países como México, Líbano e Azerbaijão. Trazendo para mais perto, no Mercosul, ficamos à frente apenas do Paraguai. Sim, perdemos até para a Venezuela.

Observo atento ao esforço do Ministério da Educação em mudar esses números, mas muito ainda precisa ser feito. Trazendo para uma realidade que vivo diariamente, acompanho com profunda preocupação a expansão desenfreada de cursos de Medicina Veterinária na modalidade à distância.

Compreendo que o mundo moderno deve acompanhar o desenvolvimento tecnológico e que ferramentas como estas devem ser fomentadas para que nas mais longínquas localidades todo cidadão tenha acesso à graduação superior. Meu ponto neste debate é outro. Profissões que lidam com a vida, que atuam diretamente nas garantias dos elevados níveis da saúde pública, bem-estar e sanidade animal, podem ser ensinadas de maneira virtual?

Desde fevereiro deste ano tenho enfrentado grande resistência dos organismos públicos na hora de barrar, por exemplo, que cursos de Medicina Veterinária sejam ministrados 100% à distância pela universidades. Não é aceitável que uma profissão da área da saúde receba profissionais formados unicamente na modalidade virtual. A vida não é digital.

Já organizamos uma petição pública com mais de 22 mil assinaturas, mas as autoridades competentes para tal mudança fazem vistas grossas aos riscos inerentes dessa permissividade. Com isso, infelizmente poderemos ter num futuro próximo profissionais sem o devido conhecimento em conteúdos teórico-práticos, com ênfase nas áreas de Saúde Animal, Clínica e Cirurgia Veterinárias, Medicina Veterinária Preventiva, Saúde Pública, Zootecnia, Produção Animal e Inspeção e Tecnologia de Produtos de Origem Animal.

A formação de médicos veterinários à distância poderá fornecer ao mercado de trabalho profissionais diplomados, mas não habilitados, do ponto de vista teórico e prático, para desempenhar com o rigor técnico a profissão.

É preciso que cursos como a Medicina Veterinária, e demais cursos da área da saúde, tenham resguardados parâmetros adequados de formação presencial, pois apenas no dia a dia da prática profissional é que estudantes de áreas que cuidam da vida, saberão como lidar com as peculiaridades que cercam nossas profissões, podendo daí sim, contribuírem de forma substancial e efetiva para elevação do IDH brasileiro, promovendo o reencontro do Brasil com o desenvolvimento sustentável.

*Por Rodrigo Lorenzoni – Médico veterinário e empresário.

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