Cemitério de barcos permeiam manguezais no litoral do Maranhão

sábado, 20 de outubro de 2018 às 11:53
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No litoral da ilha de São Luís cada vez mais surgem barcos abandonados entre os manguezais. A razão é a crise na carpintaria naval, que fez diminuir a clientela de quem trabalha no ramo. O carpinteiro naval José Adilson Araújo disse que há anos não chega uma nova encomenda.

“Há cinco anos. É a crise”, disse o carpinteiro.

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A maioria das embarcações que navegam pelo Maranhão é de madeira e feita por carpinteiros navais. A madeira é um dos maiores custos e está valendo 55 reais o metro quadrado, quando no ano passado valia 40. Já a tinta subiu de 30 reais o litro para 48 reais.

“Ficou um pouco difícil para o proprietário manter aquela embarcação quando ela envelhece. Fazer uma reforma hoje se tornou muito caro, conforme o tamanho da embarcação. Então acontece isso, quando o proprietário não tem a condição de reformar, ele abandona lá onde ela ficar. E aí ela vai se perdendo”, contou o carpinteiro naval Otávio Nogueira.

Carpinteiro naval Otávio Nogueira diz que atualmente não vale a pena reformar uma embarcação, que acaba abandonada. — Foto: Reprodução/TV Mirante

Carpinteiro naval Otávio Nogueira diz que atualmente não vale a pena reformar uma embarcação, que acaba abandonada. — Foto: Reprodução/TV Mirante

A crise que afeta as carpintarias navais ameaça os manguezais ao redor da ilha de São Luís na medida em que o ecossistema se transforma no depósito de cada barco. As carcaças são descartadas e apodrecem no mar. Em Raposa, na região metropolitana de São Luís, cerca de 14 barcos de fibra da Prefeitura estão abandonados no cais da cidade e nos igarapés.

Crise na carpintaria naval afeta ecossistemas no litoral do Maranhão — Foto: Reprodução/TV Mirante

Crise na carpintaria naval afeta ecossistemas no litoral do Maranhão — Foto: Reprodução/TV Mirante

As embarcações faziam parte de uma frota de 53 barcos de pesca comprados pelo município no começo dos anos 90 e apenas 39 estão navegando. A Prefeitura tentou recuperar alguns, mas faltou dinheiro e o patrimônio está sendo corroído pelo tempo.

“O município não tem interesse em ter barcos parados. Barcos parados não geram renda, e também não temos interesse em poluir o meio ambiente. Então qual é o interesse do município? É recuperar”, afirma Lavina Lisboa, secretária de pesca de Raposa.

Cemitério de barcos permeiam manguezais no litoral de Raposa — Foto: Reprodução/TV Mirante

De acordo com o oceanógrafo da Universidade Federal do Maranhão, Leonardo Gonçalves, há diversos pontos a serem considerados no impacto ambiental das embarcações velhas nos manguezais.

“O impacto mais direto e não visual seria por conta das tintas que são utilizadas na embarcação, que são anti-incrustantes. Essas tintas são construídas com base em minerais de metais pesados, que são tóxicos. Ao longo do tempo eles vão diminuindo de tamanho, descascando e acabam entrando nas teias tróficas dos ambientes. Além dos resídios de hidrocarbonetos, os materiais que são óleos, parafinas e graxas das embarcações”, explicou o oceanógrafo.

(G1/MARANHÃO)
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