Jovens de comunidades rurais do Bico se articulam para manter produção agroecológica

sexta-feira, 17 de julho de 2020 às 17:23
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Fotos: Assessoria/APA-TO.

BICO – A organização não governamental Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins (APA-TO), que realiza ações na região do Bico do Papagaio, fez uma pesquisa para compreender os sonhos dos jovens de comunidades rurais e construir junto com eles caminhos para a sua permanência no campo, por meio de questionário e rodas de conversas. Participaram da pesquisa 245 jovens quilombolas, quebradeiras de coco, acampados e assentados de 44 comunidades rurais do Bico.

Segundo a pesquisa, as condições de trabalho na região, assim como no cenário brasileiro, não são fáceis. Há informalidade, desemprego e trabalho precário. Ainda existe uma desvalorização do papel dos jovens, e sua atuação não é considerada trabalho, apenas ajuda.

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Mesmo diante de todas as dificuldades, as juventudes das comunidades rurais do Bico resistem por meio da produção agroecológica, algo que foi pontuado no levantamento da APA-TO. Esse tipo de produção tem o objetivo de cuidar da natureza e promover saúde e bem-estar para a comunidade. 51,9% dos jovens entrevistados no estudo não utiliza agrotóxicos em sua produção agrícola e 74,2% considera a produção agroecológica melhor.

Resistência

O Território do Bico do Papagaio é um exemplo de como as juventudes rurais têm sido prejudicadas com a perda de direitos. Porém, elas têm resistido, buscando alternativas para se manter no campo. A jovem agricultora e quebradeira de coco da comunidade de Olho D’Água, município de São Miguel, Maria Divina Paixão, de 28 anos, casada e mãe de dois filhos, afirma que a organização da produção agroecológica, neste período de pandemia, é feita com o envolvimento de todas as famílias da comunidade.

“Neste período de pandemia o óleo de coco babaçu tem sido o nosso principal produto agroecológico. É a maior procura do momento. A APA-TO tem nos ajudado muito com a venda do azeite de coco babaçu. Da última vez, vendemos 316 litros de azeite de coco babaçu para colocar na cesta agroecológica distribuídas às famílias que mais precisam na pandemia”, relata.

O jovem agricultor Leonardo Santos, 22, casado e pai de um filho, também da comunidade Olho D´Água, explica que apesar das inúmeras dificuldades, ele participa de duas iniciativas que mobilizam jovens das comunidades rurais. “Temos dificuldade de permanecer no campo junto com nossas famílias. Mas nós resistimos. Tenho participado do curso ‘Jovens semeando agroecologia’, iniciado em agosto de 2019, e criamos o Coletivo da Juventude dos Calistos. Com essas duas ações, temos motivado a juventude a contribuir com a produção agroecológica”, conta.

Maria e Leonardo ressaltam que as ações de intervenção vêm mobilizando a juventude da comunidade, desde a produção até a comercialização, que agora já podem vender em feiras do município de São Miguel. Porém neste período de pandemia, as feiras foram suspensas, mesmo assim as famílias ainda conseguem vender na banquinha da comunidade instalada na cidade ou entregar alguns produtos para as pessoas que solicitarem.

A principal produção das famílias da comunidade Olho D´Água são os cultivos de horta, milho, mandioca, banana, caju, cupuaçu e azeite de coco babaçu. Leonardo relatou que antes da pandemia, a população de São Miguel comprava diretamente os produtos agroecológicos de Olho D’Água “por não ter uso de veneno [agrotóxicos]”.

Os jovens relatam seus sonhos em meio aos inúmeros desafios que devem ser enfrentados no dia a dia: “Ter uma escola pública para as crianças e adolescentes, que haja mais valorização do trabalho desenvolvido pelos camponeses e que as autoridades criem outras formas de comercializar a produção agroecológica”.

(Assessoria APA-TO)

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