*Por Leo Fraiman
Já reparou como é gostoso observar crianças brincando? Parece que o tempo não existe para elas, não é mesmo? Seus gritinhos, a facilidade como caem e levantam, a alegria com o simples abraço do coleguinha ou o encanto de um som inusitado de um pássaro que voou perto delas.
Tudo isso nos fascina, pois, em nosso cérebro há a lembrança deste tempo em que não medíamos a vida, simplesmente a vivíamos, em que não éramos movidos por promoções ou popularidade e sim, pelo gosto por experimentar a vida em suas cores e sabores.
Ao brincar, a criança exerce sua criatividade livremente. Ela experimenta gostos, prazeres, sons, cria imagens e até com os aromas ela faz experiências que a entretêm.
O exercício de brincar e criar, porém, não é um mero passatempo. É um dos exercícios mais importantes que fazemos na vida. Por meio destas atividades aparentemente simples, aprendemos a inovar, a encontrar soluções, a viver novos papéis, a lidar com as frustrações, a formar laços e com isso, áreas do nosso cérebro relacionadas à capacidade de tomar decisões, à memória, ao raciocínio lógico, à antecipação de consequências e até aquelas ligadas à empatia e à inteligência emocional são desenvolvidas.
Uma maneira de estimular estas atividades aparentemente simples é promover a interação da criança com livros e brinquedos e/ou brincadeiras. Não por acaso, grandes empresas entendem a importância e estimulam essa ação. Um belo exemplo que concretizou estas ideias foi a campanha “Ler e Brincar” realizada pela empresa McDonald’s, cujo objetivo é estimular a criatividade e a imaginação das crianças.
Não seria um exagero dizer que o cérebro como um todo é aprimorado com o brincar e o criar. Infelizmente, porém, diversos fatores têm conduzido a uma redução nesta importante atividade humana. Um estudo baseado em testes da NASA nos dá números chocantes: aos 5 anos de idade, 98% das crianças se mostram criativas. Aos 10 anos esta porcentagem cai para 30%, acima dos 25 anos são apenas 2% das pessoas que demonstram criatividade[1].
Crianças que crescem em um ambiente que lhes permite e estimula a serem criativas podem ter uma chance muito maior de obterem sucesso e até felicidade. Isso, pois, quando chegarem na vida adolescente, em que terão que criar projetos de vida nas diversas áreas da sua existência, contarão com a percepção treinada e internalizada ao longo dos anos de que a distância entre seus sonhos e suas conquistas depende em boa parte de sua própria atitude.
Na fase das paixões, das oscilações e dos impulsos, contar com um cérebro aberto ao novo, com uma atitude leve e flexível diante da vida e ter formado laços saudáveis com amigos dos mais diversos, pode ser a diferença para uma transição bem sucedida da adolescência para a vida adulta, pois na hora em que se deparar com as decepções, quando os planos infalíveis não derem certo, ou no momento em que precisar ajustar seus desejos aos dados e fatos da realidade, lá estará ela: a criatividade, que é a base essencial da resiliência diante da vida.
Imagine agora em sua mente, enquanto lê estas palavras, a imagem de pessoas empreendedoras, de gente que você admira, profissionais que foram além, criaram algo novo ou se reinventaram. Pense agora nos aplicativos que fazem a sua vida mais fácil, mais leve, melhor. Pense nas empresas, times e equipes de sucesso. Em praticamente todos estes contextos você verá adultos que têm muito daquela mesma atitude das criancinhas de que falamos no começo do nosso artigo. Elas mediram passos, mas não seus sonhos. Elas pensaram fora da caixa. Elas ousaram. Elas criaram, pois se permitiram brincar com as ideias e recriar a realidade. De certo modo podemos dizer que o empreendedor é aquele que “lê” a realidade por novos ângulos e “brinca” com as possibilidades gerando prosperidade.
Quando é que você tem dedicado algum tempo para brincar e criar com seus filhos, com seu cônjuge, consigo mesmo? Nós temos, na prática, a idade que pulsa no coração. Quantos anos você tem, de verdade?
Por Leo Fraiman, Professor e Psicoterapeuta