Quem não viu?

segunda-feira, 26 de junho de 2017 às 11:04
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*Ângelo Cavalcante

Eu vi sim e vou contar enquanto vida tiver! Vi uma turba de ignorantes, boçais e arrogantes destilando ódio nas praças, universidades, locais públicos e nas redes sociais. Uma gente medonha, cínica e hipnotizada e que urrava suas verdades capadas de essência e sentido de modo que todos os que discordavam do estupor eram agredidos e assacados.

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Vi sim e ninguém precisou me contar! Vi uma dadivosa gente religiosa e “cheia de Deus” no coração pregando a morte para comunistas, socialistas, anarquistas e pessoas da esquerda. Com um olho na bíblia e outro no altar da imolação espumavam ódio pelos cantos da boca exigindo o sacrifício final.

Eu vi porque todos viram, distintas senhoras de família, ínclitos homens de negócios e a juventude das médias e altas classes em uníssono “vão para Cuba!”. Esqueceram-se, no entanto, que este insular país caribenho jamais nos sabotou com golpes militares, com espionagens ou com injeções de dinheiros para a instabilização de instituições púbicas e de governo. Cuba nunca nos pediu uma gota de petróleo! Médicos servem?

O que mais se viu foram prantos caudalosos escorrerem de suas faces para que as forças armadas lançassem bombas e tanques contra o povo brasileiro! Isso foi visto por todos! Me digam, intervenção militar, por acaso, acontece com festivais de sorvetes, distribuição de algodão-doce e banda no coreto da praça ou com a mira firme e precisa de fuzis sobre a cabeça de resistentes? Há uma pedagogia e a morte é a principal disciplina.

Eu vi a televisão inoculando doses cavalares do veneno da mentira e da infâmia em vossos juízos e, conforme se constatou, fora operação exitosa porque, de verdade, vocês deixaram de ser gente; se tornavam a cada “plim-plim”, a cada “imparcial” jornal nacional, feras, bestas manipuláveis e incontroláveis! Gritavam ensandecidamente, batiam panelas, das varandas de apartamentos de alto padrão piscavam luzes; nas ruas agrediam pessoas, tiravam a roupa, beijavam policiais e abobalhadamente clamavam um “Bora Temer!”.

Vocês e vocês… Foram a base firme para tudo o que de pior, de mais desumano e deletério e que se passa nesse Brasil entristecido, pequeno, fraturado e amedrontado. Vocês são o estrume, o farto adubo que permitiu que as mais perigosas daninhas se erguessem como nunca na paisagem política brasileira ao ponto de fazerem sombra sobre o que temos de melhor nesta terra. Vocês quase nos roubaram o sol.

Eu vi a “grande” obra social e política que vocês deram forma e atividade e agora… Agora, temos este “conclave de santos, anjos, querubins e serafins” sob o governo de Temer, atualizando a escravidão, modernizando a vassalagem e contextualizando a perversa lógica colonial que predou a vida nacional por quatro séculos. Vocês destruíram o país. Eu vi e essa história deve ser contada por todo o sempre!

Ângelo Cavalcante – Economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

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