Órgão chama a reflexão toda a população tocantinense acerca dos altos índices de morte por sinistros de trânsito no estado e o impacto dessas ocorrências na vida de familiares, amigos e conhecidos das vítimas
TOCANTINS – Neste domingo, 17, o Governo do Tocantins, por meio do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/TO), lembra do Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trânsito, uma data que chama a reflexão toda a população tocantinense acerca dos altos índices de morte por sinistros de trânsito no estado e o impacto dessas ocorrências na vida de familiares, amigos e conhecidos das pessoas que passaram por esta situação.
“Era uma tarde de julho de 2016, mais ou menos umas 17h30, na estrada entre os municípios de Sítio Novo e Axixá do Tocantins, região conhecida como Bico do Papagaio, quando o veículo em que minha sobrinha e o avô dela estavam colidiu com outro que se encontrava estacionado de forma inadequada às margens da TO-010. Em alta velocidade, após a colisão o veículo capotou várias vezes, sendo que no último giro o peso do carro ficou todo em cima nela. Recebi a notícia do óbito da minha sobrinha por meio de alguns familiares, e logo veio aquele sentimento de tristeza e negação, mas tive que me recompor para dar a notícia ao meu irmão, que na época morava nos EUA, sobre a morte da filha, o que tornou a situação ainda mais difícil”
Este é o relato de Vânia Lúcia de Lima, Policial Militar do Tocantins da reserva, sobre um dos momentos mais tristes e dolorosos da família: a morte da sobrinha em virtude de sinistro de trânsito. A jovem tinha apenas 18 anos na época e perdeu a vida ainda no local. O avô que tinha 75 anos na data do ocorrido teve ferimentos e algumas sequelas, mas nada se compara a dor e o sofrimento de ter perdido a neta.
Bett Lopes, administradora e pastora, também carrega marcas da perda de um ente querido por sinistro de trânsito, mais especificamente, o pai, Matusalém de Carvalho Lopes, na época aposentado de 78 anos, que morreu após ser “atropelado por um motoqueiro que vinha empinava a moto, que viemos descobrir depois que nem habilitação o rapaz possuía”, conforme relata a filha do aposentado. Matusalém foi atropelado a poucos passos da faixa de pedestre, vindo de uma quadra na região norte de Palmas, a caminho de casa.
O motociclista não prestou socorro e fugiu do local, deixando o pai de Bett à deriva, esperando o socorro que chegou 40 minutos depois. O aposentado chegou a ser internado. Foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Palmas, onde foi entubado, e logo encaminhado para o Hospital Geral de Palmas (HGP), onde ficou na sala vermelha, passando por cirurgias nas pernas. Ele teve as duas pernas fraturadas em dois lugares; 4 costelas quebradas; pulmão perfurado; pulsos quebrados e o traumatismo crânio. Matusalém não resistiu e morreu dois dias depois de ter sofrido o sinistro de trânsito.
“A vida sem meu pai tem sido um desafio. Sentimos falta dele todos os dias, porque ele era muito presente e ativo. É um vazio tão inexplicável que não se parece com nada que eu já tenha imaginado. É uma dor que está sempre presente e não importa onde vamos, a dor está sempre lá, porque meu pai não está. Meu pai não foi morto por um acidente, ele foi assassinado por alguém que não valoriza a vida, nem a dele e nem a do outro. E assim como nós, muitas famílias têm perdido seus queridos por este tipo de pessoa, neste tipo de situação”, conta a filha de Matusalém.
“A questão da morte é para o ser humano um grande mistério, quando vem de maneira brutal e inesperada, como foi, é ainda pior. A mãe dela, minha cunhada, até hoje nunca se recuperou do trauma desencadeado pela perda da filha, o irmão está inconformado com a morte da irmã e o avô viveu muito tempo com sentimento de culpa pelo ocorrido. A situação foi ainda pior para a mãe, que hoje consegue passar pelo local do sinistro e teve que mudar de cidade. Mesmo 8 anos depois, nós seguimos nossa vida ainda sem acreditar em tudo isso que aconteceu”, relata a PM.
O sofrimento de outras 500 famílias
A dor da perda e as lembranças da família de Vânia e Bett são alguns dos sentimentos, entre muitos outros, também compartilhados pelos familiares, amigos, entes queridos e conhecidos das 581 pessoas que perderam a vida em decorrência de sinistros de trânsito em 2023, no Estado do Tocantins, segundo levantamento da Gerência de Estatística do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/TO) e da Secretaria da Saúde do Tocantins (SES/TO). Para se ter uma ideia, isso significa dizer que todo dia aproximadamente duas pessoas morreram por sinistros.
Dia Mundial em Memórias das Vítimas de Acidentes de Trânsito
Completando 29 anos desde a sua promulgação pela Assembléia da Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Mundial em Memórias das Vítimas de Acidentes de Trânsito ocorre no terceiro domingo do mês de novembro, a data tem o objetivo de lembrar das pessoas que perderam a vida em virtude de sinistros de trânsito, como a sobrinha de Vânia e o pai de Bett, e também prestar apoio e solidariedade aos familiares e amigos das vítimas, como a própria Vânia e Bett.
A data também trata de homenagear aqueles que sobrevivem hoje com sequelas em virtude de acidentes de trânsito, como também equipes de emergência, polícias, autoridades de trânsito, enfermeiros e médicos, entre outros profissionais, que lidam diariamente com as consequências traumáticas das mortes e lesões no trânsito no dia a dia.
Segundo o gerente de fiscalização e segurança, e agente de trânsito do Detran/TO, Enildo Leite, o Dia Mundial em Memórias das Vítimas de Acidentes de Trânsito é importante para tratar da realidade violenta que os sinistros causam nas vias de todo o estado.
“Cada vida perdida é uma história interrompida, um sonho desfeito, e não podemos esquecer que, por trás de cada número, existe um ser humano — alguém que tinha pessoas que o amavam e esperavam seu retorno. Este dia é uma oportunidade para lembrar que a segurança no trânsito é responsabilidade de todos nós. Não se trata apenas de seguir regras, mas de respeitar a vida, o próximo e, acima de tudo, entender que cada escolha que fazemos no trânsito pode ter um impacto profundo e irreversível”, pondera o gerente.
Para o presidente do Detran/TO, Willian Gonzaga, “Neste dia queremos evidenciar o valor simbólico e educativo que a data carrega, pois serve para sensibilizar a sociedade sobre a gravidade da temática que o trânsito envolve e a necessidade de mudanças em diversos níveis. Queremos que com esta data possamos refletir acerca das consequências de nossas ações no trânsito e para que trabalhemos coletivamente por vias mais seguras e humanizadas. Em memória a todos aqueles que perderam a vida no trânsito, colocamos aqui o nosso compromisso com a construção de um futuro onde as vidas possam ser preservadas, e não perdidas”, reforçou o titular da pasta.
Mortes por sinistros de trânsito
O Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes de Trânsito é uma importante forma com que entidades governamentais e setores da esfera públicas e privadas encontraram para poderem demonstrar a os altos índices de sinistros de trânsito e evidenciar o impacto das mortes e lesões desse tipo na vida das pessoas, sensibilizando a comunidade em prol da construção de vias seguras com condutores mais prudentes, responsáveis e humanos.
Ainda de acordo com os dados do Detran/TO e da SES/TO, de janeiro a agosto de 2024, houve o registro de 393 mortes por sinistros de trânsito no estado, o que evidencia a relevância desta data como uma maneira de chamar a atenção de todos os tocantinenses sobre a dimensão deste problema. Ainda conforme dados da gerência de estatísticas do Detran/TO, até setembro de 2024, o estado do Tocantins registrou 4.244 sinistros de trânsito.
Diante deste cenário, ao longo de todo o ano, o Detran/TO desenvolve uma série de ações educativas e operações repressivas periodicamente, além do patrulhamento diário, que buscam coibir mortes por sinistro de trânsito e salvar vidas.
Mudança de comportamento no trânsito
Mais do que uma data no calendário, o Dia Mundial em Memórias das Vítimas de Acidentes de Trânsito é também um momento para sensibilizar toda a comunidade sobre o impacto dos sinistros de trânsito, de modo a incentivar uma mudança no comportamento dos condutores na direção de um veículo, pedestres e demais usuários nas vias. Assim, o Detran/TO traz algumas boas práticas que evitam a chance de ocorrência de um sinistro e assim são capazes de salvar inúmeras vidas:
1- Direção defensiva: dirija com atenção e cautela, sempre preparado para a possibilidade de ocorrência de sinistro
2- Setas não são opcionais, sempre que for fazer uma ação, sinalize.
3- O trânsito não é competição de quem chega primeiro, respeite os limites de velocidade e as demais sinalizações
4- Ao assumir o volante, deixe o celular de mão. Desligue-o ou ponha no silencioso
5- Use cinto de segurança, capacete e demais equipamento obrigatórios
6- Não assuma o volante após ingerir bebida alcoólica ou usar drogas
Um recado aos condutores
“No trânsito todo cuidado é pouco, precisamos conduzir veículos como se nunca tivéssemos preferência, pois de nada adianta ser dono da preferência e depois perder a vida por imprudência e falta de responsabilidade, ou passar uma vida inteira com o sentimento de culpa ou arrependimento. Dirigir defensivamente é dirigir não só por você, mas pelo outro também, afinal, sempre tem alguém que te ama, esperando chegar em casa”, diz a PM, Vânia Lúcia Lima.
“Todos nós que temos a chance de conduzir um veículo, precisamos entender de uma vez por todas, que existem riscos fatais. Conduzir de forma irresponsável é assumir o risco de morrer e matar. É preciso não apenas uma direção defensiva, mas também uma direção responsável, pensando na própria segurança e na dos outros. Que todos os dias ao sairmos de casa em nossos veículos possamos lembrar, o quanto uma vida é importante e a partir desse pensamento conduzir de forma responsável”, enfatiza Bett.
No trânsito, cada sinistro pode ser evitado, por isso, o Detran/TO lembra a todos os tocantinenses que qualquer vida perdida nas vias é inaceitável. O órgão orienta os condutores que ao sair de casa não esqueçam da responsabilidade, da atenção e do cuidado que se deve ter no trânsito, pois sempre há alguém que amamos e nos amam, que aguarda o nosso retorno para casa. Paz no trânsito, começa por você!
(DETRAN-TO)