1964

segunda-feira, 1 de abril de 2019 às 08:37
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Foto: Internet

*Por Leonilson

Pensem nas pessoas nuas e torturadas,
dentro dos porões da solidão escura.
Nas que tiveram suas vidas arrancadas,
sem tempo de adeus, sem nome nem sepultura.

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Pensem nas pessoas que deixaram seus lares,
suas famílias, seus sonhos, seu país.
Que tiveram que buscar outros lugares
onde pudessem fingir de ser feliz.

Pensem na total falta de liberdade
para andar, cantar, brincar, sorrir.
Nas correntes que prendiam com insanidade
o direito humano de ir e vir.

Pensem nos sonhos que foram abolidos,
nas esperanças que foram abaladas.
Nos gritos de dor que não foram ouvidos,
nas mortes cruelmente antecipadas.

Pensem nas crianças que choraram de medo,
nos homens que choraram de dor.
Pensem naqueles que viveram em segredo,
fugindo da mira mortal do terror.

Pensar pode até doer, doer…
mas não dói como em quem sentiu.
E agora vêm de repente nos dizer
que era o remédio para o Brasil.

Vêm heroizar os que mataram,
que derramaram sangue pelas ruas.
Os que feriram, que abusaram
das mulheres ensanguentadas e nuas.

Como está a alma de quem viveu
a dor insuportável daqueles dias?
Como está a família de quem sofreu,
de quem morreu na lama da tirania?

Não se pode apagar a história
ou dar-lhe uma faceta humana.
Foi, sim, data cruel, inglória,
nefanda, nefasta, insana.

Melhor calar-se e não falar nada.
Não arrancar a pele da ferida.
O tempo segue por outra estrada,
e não se junta a vida derramada
plantando morte nas covas da vida.

LSS

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