Fake News, voo para o abismo

segunda-feira, 8 de junho de 2020 às 08:10
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Paulo Martins, professor e escritor. – Arquivo Pessoal

*Por Paulo Martins

Com o surgimento da internet e a popularização dos smartphones, todos passaram a expor o que pensa. Algo positivo, visto que torna o ato de se comunicar democrático. O que não se esperava, era que a benção também fosse a raiz de tantos males. Entre tropeços, está a disseminação das chamadas Fake News.

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Quando me preparava para vestibulares e concursos, além dos conteúdos, procurava me informar sobre fatos históricos, cultura, ciência, entretenimento, cotidiano. Para isso, na época, além da TV, havia revistas e jornais impressos, vendidos em bancas.

Assim que recebia o meu salário de costureiro, apressava as pedaladas até à banca; chegava minutos antes de fechar. Com o pouco dinheiro comprava alguns periódicos. Algumas vezes, comprei revistas e escondi da minha esposa. Não ocultei por conter pornografia ou algo proibido, mas porque sabia que estava desinteirando o orçamento familiar.

Dentro da sacola eu levava esperança. Era o sonho de que tudo aquilo um dia se tornaria a porta para a universidade pública, um emprego melhor, o futuro dos meus dois filhos. Essa parte da minha história fez com que se despertasse, em mim, encanto e respeito pelos profissionais do jornalismo.

Naqueles anos, quem propagava informação eram somente jornalistas, formados pela academia ou pela experiência no ramo. Trabalhar em uma grande mídia era o ápice para estes profissionais. Tempos em que eram admirados e respeitados pela sociedade.

Em um curto espaço de tempo, as novas tecnologias chegaram, como um relâmpago. Alteraram a nossa relação com a informação, possibilitando a clara fusão dos papéis de consumidor e produtor de conteúdo. Com isso, deu-se voz a novos atores. O que se vê, agora, por parte de muitos, é o injusto desprezo pelos profissionais da comunicação.

Dar voz a alguém é algo poderoso. Entretanto, todo poder exige responsabilidade. Esta, passa pela pesquisa, pela seleção das palavras, pela veracidade do discurso. Esse texto, que você lê, por exemplo, antes de ser publicado, passa pelo crivo de um profissional do jornal, que irá ou não aprovar a publicação.

Com as redes sociais é diferente. É como se todos, responsáveis e irresponsáveis, tivéssemos o papel e a caneta em mãos. Prontos para produzir informação e lançar aos ventos, espalhando verdades e mentiras, conhecimento e ignorância, tudo ao mesmo tempo.

Se você pensa que eu lamento o fato de todos poder falar, enganou-se. Pelo contrário, isso é um direito, é democrático, é belo. O que lamento é a nossa lenta educação ter se atrasado, não ter embarcado no mesmo voo das novas tecnologias.

Hoje, por causa de uma educação que sempre nos foi negada, pagamos caro. As Fake News devoram a nação. Implantam ódio, confundem a sociedade. Tornaram-se mecanismo de manobra. Manipula os analfabetos funcionais, os que não sabem diferenciar o fato da opinião, a verdade da mentira.

Dar voz a todos é um voo necessário, mas não combater a ignorância pode conduzir uma sociedade ao abismo.

Paulo Martins é professor, mestre em Literatura, escritor e autor do livro “Vamos Conversar: crônicas” (2017). Ed. Kelps, Goiânia, GO.

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