Minha adolescência na vó Bibina

quinta-feira, 31 de outubro de 2024 às 15:13
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Juarez Alvarenga. – Foto: Divulgação

*Por Juarez Alvarenga

Tinha quatorze anos, quando preferir viver à margem da sociedade. Talvez seja por falta de rio onde pudesse mergulhar e nadar com naturalidade. Tomei, então, a iniciativa de dormir na casa de minha a vó Bibina, madrasta de meu pai, que morava retirado da cidade. Pegava meu rádio e todas as noites -de luar ou não -ia dormir neste sitio retirado.

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Sempre compreendi, desde cedo, que devemos ter agressividade com nossos sonhos. Naquela época, já percebia que as pessoas submetiam seus tímidos objetivos, a monotonia diária. Tinha convicção, que as grandezas de meus sonhos, chegava até mesmo a me marginalizar. Mas, foi através destes, sonhos que petrificaram em mim que consegui pavimentar meu destino, relativamente, vencedor.

Acordava de madrugada e começava a estudar. Sonhei com um destino normal, em ser um competente engenheiro da Usiminas, mas minha vida tomou direção, infinitamente, diferente. O foco era outro e os instrumentos usados, começaram a fazer as coisas, a acontecer devagar, porém, solidamente.

Hoje, vejo as meninas de minha época e fico imaginando, que a vida nos retira tudo que ela, temporariamente, nos dá com abundância. Elas, as meninas de minha época, chegaram até a sonhar com o cantor Fabio Junior, mas as realidades os levaram para situações desfavoraveis e a destino, totalmente diferenciados, de seus sonhos de adolescência.

Menino tímido e observador, lembro do mês de maio, juntamente com meus colegas, numa “eletrola” de marca “Sonata” e com disco vinil, enfrentávamos os pais das meninas de minha época, adicionados ao frio, íamos fazer serenata. A realidade, de época era totalmente desfavorável, quando colocava aquela coleção só de música romântica, ignorava que as moças de meu tempo estavam pensando em outros homens que não seja eu; porém, hoje percebi que o sacrifício foi em vão.

Hoje, por não ter deixado meus sonhos a beira das estradas, me parece que aquela, sociedade, que um dia me marginalizou, começa a perceber a viabilidade de meus sonhos

Existem muitas maneiras, de olhar a natureza humana, profundamente. Sabemos que são rigorosos, pelo menos com os outros, e só aceitam vencedores, ou melhor, só veem o resultado positivo pronto; não imaginam os bastidores e as dificuldades para atingir tais objetivos.

Se você tem algum objetivo, aprenda que o silêncio dele esconde, também as derrotas encontradas dentro de sua trajetória.

Esqueça as dádivas, estique o arco, aprenda a dar direção mais as flechas e mire com determinação, e, depois é só esperar o resultado.

Nos momentos de construção, aja como um humilde pedreiro, chega até mesmo a aceitar a descriminalização, mas depois do edifício pronto coloque em lugar estrategicamente visível.

Na época que comecei a alimentar meus sonhos, de fragmentos reais, percebi a voracidade e a insaciabilidade que um sonho em ação nos consome.

Hoje, tem a noção, que as músicas do passado não tinha ouvidos, para as meninas de minha época, mas estou com novos tons, de quem aprendeu a afinar os instrumentos desafinados pela vida. Pois, minha canção de uma nota só realmente atingiu o ouvido de uma única adolescente, que para mim basta.

Juarez Alvarenga é advogado e escritor

E MAIL: juarezalvarengacru@gmail.com

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