*Por Valdo Rosário
“Neste momento ou nesse…” Decidi escreve-te uma carta, por vários motivos. O intuito é falar de nossas histórias e estórias, que se entrelaçam pelas emoções e a razão; também, pelos pronomes demonstrativos: “nesse e neste.” A comunicação por meio da linguagem escrita (carta) e atualmente por redes sociais, vivenciam muito bem estes pronomes.
As palavras têm poder: “No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um vento de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: “Haja luz” e houve luz”. Gn. 1, 1-3. A linguagem, como pantomima e onomatopeia, tem a função de decifrar e explicar nossos instintos humanos, para assim, podermos manifestar aos demais, nossas dores, angustias, tristezas, o carinho e o Amor, tanto “Ágape, Philia quanto Eros”. O tempo separa ou aproxima as relações por meio do tempo linear da física; mas, a linguagem separa as pessoas e as unem, não somente pelo tempo cronológico, também, se utiliza das emoções e desejos passionais, que não estão presos ao espaço e ao tempo. Entretanto, necessitam da linguagem para serem vivenciados. É nessa seara, que os pronomes demonstrativos “nesse e neste” entram, como meio de explicar o que está no passado ou presente, distante ou próximo.
A carta tem a função de informar um fato, demonstrar sentimentos, entre duas pessoas que estão distantes física ou emocionalmente. Portanto, quem escreve a carta, recorrerá aos pronomes “nesse ou neste…” Mas, um casal consumido pelos desejos carnais, além do “nesse”, utilizará também, o “neste”, porque os sentimentos não estão presos ao espaço e ao tempo. O problema, é quando os sentimentos entre os dois são diferentes: Como fica, nesse caso? Permanecerá o “nesse ou o neste?”
Diante dessas circunstâncias, tenho dúvidas, se posso usar “nesse ou neste;” nesta carta. O tempo passou e nos distanciamos um do outro, pelo tempo Cronos, (que é tempo da física, que pode ser medido por segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, séculos etc.); porém, o tempo Kairós, (este, é o momento oportuno para fazermos algo, não está preso ao tempo Cronos da física, é o tempo próprio para o convencimento, de acordo com os filósofos Sofistas. No universo teológico, significa agirmos no tempo de Deus e não necessariamente no nosso tempo).
Se pudesse, utilizaria “nesse”, somente quando estivesse referindo-me ao passado, todavia, infelizmente, tenho que usá-lo quanto aos sentimentos. Mas… Como os sentimentos são construídos tanto no tempo Cronos quanto Kairós, o “nesse e neste” podem ser modificados, de acordo os dois tempos. Assim, poderemos utiliza os pronomes “nesse e neste”, para afirmação ou negação de nossas histórias, entretanto, poderemos não falar de nossos sentimentos… O que é impossível negá-los para nós mesmos. Portanto, nossa história está presa pelos pronomes demonstrativos “nesse e neste”; porém, eles também, podem nos unir.
Além desses pronomes demonstrativos, existem as formas de conhecimentos, segundo Platão, são quatro formas, que vão do grau inferior ao superior: crença, opinião, raciocínio e intuição intelectual. Os dois primeiros são conhecimentos sensíveis; os dois últimos, são definidos como inteligíveis. Para Platão, as duas primeiras formas, devem ser superadas para alcançarmos a verdade, o mundo das ideias ou inteligível. Essas formas do conhecimento, representam nossos desejos do mundo sensível, mas, também, a realidade intelectual do mundo inteligível.
Nossa relação também pode ser compreendida de acordo às sete formas ou graus de conhecimento, segundo Aristóteles: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, raciocínio e intuição. Ele separa os seis primeiros graus da intuição intelectual, porque essa última, é um ato puro do conhecimento. Mas, essa separação, não significa que os demais graus de conhecimento são falsos e ilusórios; eles oferecem um conhecimento diferente, que vai de um grau menor a um superior. Para Aristóteles, nosso conhecimento vai se formando por acúmulos de informações trazidas de todos os graus.
A diferença entre os seis primeiros graus do conhecimento e o último, é que os primeiros conhecem a realidade que se oferece a nós pela sensação, percepção, imaginação, memória e que pela linguagem forma um raciocínio separando o falso do verdadeiro, por meio dos princípios racionais (identidade, não contradição e terceiro excluído), também da dedução e indução. A intuição é a condição para conhecermos o que é indemonstrável pelos princípios, porque o raciocínio é a maneira de qualquer demonstração. Assim, podemos perceber que nossa história pode ser vivenciada de acordo a filosofia aristotélica, de compreendermos o que nos separa, também pode servir como acúmulo para uma vivência da paixão, desejos, raciocínio e na intuição, migrando do “nesse” para o “neste”. Portanto, o Amor Ágape, Philia e Eros, podem ser vivenciados de acordo com os graus do conhecimento, em Aristóteles; no mundo sensível e inteligível, em Platão.
Valdo Rosário, Augustinópolis/TO, novembro de 2024
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