Em seus últimos instantes de vida, Mateus Almeida da Silva, de 20 anos, foi obrigado a gravar um recado em vídeo. Com as mãos amarradas para trás, com sinais de tortura pelo rosto, ele repetiu frases criadas de improviso por seus algozes. “Todos CV, sai voado de Araguaína que vai morrer tudo”, disse, enquanto olhava para a câmera com o olho direito, o único que conseguia manter aberto em razão dos hematomas. “Desculpa aí, PCC”, repetiu, antes de levar um tiro na cabeça. Depois recebeu mais duas balas no rosto.
O assassinato de Mateus no final do mês passado, em Araguaína, no interior do Tocantins, é exemplo da disputa entre facções criminosas que se estende para fora das prisões em ao menos 17 das 27 unidades da federação. Seria essa, segundo integrantes do governo paulista, a continuação da guerra iniciada nas prisões no final de 2016.
O Tocantins está na 12ª posição em número de membros ‘batizados’ pela facção criminosa. Segundo o levantamento, atualmente são 513 membros no Estado. O conflito é considerado ‘moderado’.
O mapa das disputas faz parte de levantamento do Ministério Público de São Paulo, que também acompanha a atual “campanha” de recrutamento de novos integrantes do PCC. Uma série de “batismos” fez saltar o contingente de integrantes fora do Estado de 3.231, em outubro de 2014, para 16.195, em março deste ano. Desse total, 4.256 foram cooptados a partir de agosto de 2016.
Essa estimativa é feita em cima de planilhas da própria quadrilha, apreendidas em investigações da polícia de São Paulo. Os chefes mantêm controle formal de filiados porque todos são obrigados a contribuir com o bando com o pagamento de mensalidades. A inadimplência também pode gerar punições.
O batismo
Para ser “batizado” pelo PCC, um criminoso precisa ser convidado por outro já pertencente à quadrilha, com aval de outros dois “batizados”. O nome do padrinho e o próprio nome de guerra se tornam uma espécie de RG do detento no grupo. Quem convida assume responsabilidade pelo afilhado e, também, pelos erros cometidos por ele. Um problema grave de indisciplina (como matar um colega sem autorização da cúpula) pode custar a vida de ambos.
Segundo a Promotoria, para conseguir fazer esse recrutamento em massa, uma das estratégias é reduzir as exigências dos padrinhos e, ainda, chamar de volta criminosos que haviam sido expulsos da facção por alguma irregularidade.
A expansão do PCC para fora das divisas paulistas ocorre desde o final dos anos 1990, quando, em 1998, o governo de São Paulo decidiu mandar chefes da facção para outros Estados, em unidades prisionais sem isolamento de outras facções. O objetivo seria enfraquecer o bando em São Paulo, mas teve o efeito colateral de fortalecê-lo no restante do país.
Com informações da Folha de São Paulo.
Em recado ao Comando Vermelho membros do PCC executam homem em Araguaína